quarta-feira, 20 de julho de 2011

Renata

É só mais um daqueles dias em que chove demasiadamente, em que a água invade qualquer fresta que encontra e, por fim, acaba escorrendo sob tua face.
Sei que pensou que o tempo acalentaria tua dor, taparia o buraco, acabaria com o vazio. Antes fosse. Porém sei que carrega em ti, mais viva do que nunca, a lembrança de onde esteve dois Invernos atrás.
Os corredores brancos, o homem desabado ao canto, o consolo que não vem de parte alguma.
A imagem parece ter sido fotografada, pois se lembra de cada detalhe da pele amarelada e dos olhos entreabertos quanto são possíveis existir. Deixou cair a mão pelos cabelos já sem vida, e da forma que se mantinha ao seu lado no pior dos momentos, digo ‘forma’ pois naquele momento não podia dizer que via gente ou coisa alguma além dos detalhes e dos monitores já desligados, ouvia desespero do qual jamais havia ouvido falar.
É impossível apagar. O mal-estar lhe toma o corpo novamente. Por quanto tempo mais isso vai lhe atingir com tamanha intensidade?
Não consegue ouvir resposta alguma. O físico mal conta. O que de fato dói é a alma, a falta.
Olha para o lado, após dois anos ainda guarda em si a esperança de que tudo tenha sido apenas um pesadelo, dos piores. Procura. Desde o início fingiu estar bem, forjou até mesmo armadura de aço para que demonstrasse força inexistente.
Mas não hoje. Hoje foi como um banho de água fria. Deu-se conta de que é tudo tão real quanto temia que fosse. Nada voltará, nada será desfeito. Precisa desabar.
Ela se foi, não por uns tempos, mas para sempre.
Não pronunciará mais uma palavra sequer e não opinará acerca das recentes mudanças.
Encara a saudade e larga o temor.
Gravou-se tanto de ruim do qual não consegue esquecer, tranquiliza-se então. Também não será capaz de esquecer as caminhadas beira-mar, o afago que ela lhe fazia antes do adormecer, sua forma direta e nada sutil de expor suas opiniões, sua voz a cantarolar enquanto o sol lhe dourava a pele e, principalmente, o amor que sentiam uma pela outra, que agora carrega todo no teu peito, a herança que deixou em ti.
Leva a saudade, as boas lembranças e esquece a dor.
Acredito que chegará o dia em que ao lembrar-se dela não será capaz de fazer nada além de sorrir.



(Que tua morada aí em cima esteja boa pra caramba Rê, eu te amo!)

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