sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bob Mar (11/05/11)

De certa forma, ele era meu único vínculo com aquele lugar.
Eu bem sabia que não permaneceria ali na sua ausência bem como ele não suportaria a minha. Por isso encontrávamos ali, não sei se fortes, mas firmes. E enquanto sua fragilidade se mostrava a cada dia mais, eu seguia disfarçando. Era um belo de um disfarce, capaz de enganar muitos, todos, menos a ele.
Fitava-me nos olhos e desvendava minha alma.
Se não compreendia minhas palavras, conhecia-me como ninguém. Chegava perto, deitava ao lado, e eu tinha certeza: “ele sabe das minhas fraquezas.”
Tenho certeza de que em algumas noites o vi chorar. Ele chorava por mim, pela minha dor, fosse ela física ou emocional. Em segredo chorávamos juntos.
Foi o único que encontrei cujo pranto era tão silencioso quanto o meu.
Foi o único que encontrei que não julgou, não culpou e soube perdoar sempre.
Por vezes ignorei sua presença, não lhe dirigi a palavra, lhe neguei afeto. Ele perdoou. Sempre.
Nunca o chamei de amor, hoje sei que ele daria sentido a tal palavra. Nunca o negou, nunca o poupou. Tenho a certeza de que ele sabia amar.
Se disse que o vi chorar posso também dizer que o vi sorrir. Muitas, tantas vezes! Todo despertar da manhã ou chegar da noite. Eu abria a porta e lá estava o seu sorriso. Tinha o sorriso mais sincero de que tenho notícias. Se minha dor era sua lágrima, meu existir era seu sorriso. Me via e sorria.
Não encontrarei outro assim.
Não pretendo procurar.
Queria que apenas um dia pudéssemos ter um diálogo.
Queria calar um pouco para ouvi-lo, mesmo que não tivesse nada a dizer.
Queria estancar toda sua dor, arrancá-la, bani-la.
Queria vê-lo correndo uma última vez, sorrindo em sua melhor forma.
Nessas horas se percebe o desperdício. Desperdício de tempo, de momentos. Tudo era tão simples. Era não, poderia ter sido. O desperdício foi tão simples.
Eu queria vê-lo novamente. Tomá-lo nos braços. Pedir perdão.
Seria novamente um desperdício. Ele estaria sorrindo, me fitando os olhos e através deles me contando sobre o amor que por mim sente.
Ele compreenderia tudo, não as palavras, mas todo o resto. Sempre o fez dessa forma, e faria mais uma vez.
Ele sabia que era hora de eu partir, por isso decidiu ir antes, me pediu para ir antes.
Fomos quatro uma vez. Eu e ele éramos como um. Um fosse, o outro ia. Fomos juntos, não para o mesmo lugar, mas fomos. Dos quatro restaram dois. Eles refazem os mesmos caminhos que fizemos todos os dias, na nossa ausência. Marcamos suas vidas e, mesmo na nossa ausência, eles sentem nossa presença. Dois dos quatro permanecem ali, já os outros dois, eu e ele, sabíamos que era hora de partir. E fomos.
Espero que haja um belo canil no céu.

"Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler nas nossas conversas demoradas
Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam.." ♪


ps: Para o melhor cachorro que eu já tive ou possa vir a ter. Aguentou firme os piores momentos ao meu lado hein Bóbinho! ;)

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