sábado, 4 de dezembro de 2010

O perdão

Sentada no banco da rodoviária ela aguardava anciosamente pelo ônibus cuja chegada estava prevista para às 14hs, e enquanto aguardava pensava no tempo em que haviam perdido. O orgulho havia se posto em seus caminhos, o que dificultava uma reaproximação, e o fato de estarem neste momento indo um ao encontro do outro é quase que um milagre promovido por mãos humanas.
17 anos. 6205 dias que se passaram sem demonstração de afeto alguma entre eles. Haveria reparo? Ambos acreditavam que sim.
Enfim, a chegada esperada. Olharam-se fixamente, de forma antes jamais feita. Nos olhos dela toda inocência e esperança que habita o coração de uma criança, nos dele a alegria e emoção de quem reconhece alguém como parte de si. Então abraçaram-se, não os corpos, mas as almas, e as lágrimas diziam tudo aquilo que a voz falhava em dizer.
Bastou um telefonema para que tal momento se tornasse possível, bastou ela ser forte e conhecer o real significado do perdão. Quase posso ouvir seus pensamentos praguejando contra todos os telefonemas formais antes disperdiçados. E ali estavam, sem querer que o tempo passasse ou voltasse, querendo apenas estar.
Ela esqueceu do medo de uma nova decepção.
Ele esqueceu do receio de novas acusações.
Desejaram com sinceridade fazer parte da vida e ser inserido na rotina do outro ser, que carrega seu próprio sangue.
Eram pai e filha, pela primeira vez.

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