terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Há tempos não colidia com tais desejos, porém agora pode sentir suas pernas, braços e todos outros membros existentes enroscados em lembranças insólitas que remetem à um 'redesejar'.
As próprias paredes, brancas e lisas, quando invadidas pelo luar formam sombras que transformam-se em fantasias, em sonho completamente realizável.
E recordou o toque, o andar, o aroma...
Nada daquilo, nem mesmo a distância, havia a ferido, e continuava fazendo-a sorrir sem esforços.
Transcendia todo sentimento, toda lógica, todo imaginável, e quem tomava conhecimento dos acontecimentos ou apenas dos pensamentos que dominavam-lhe a mente chamavam-na de insana. Contudo, nunca procurou fugir da insanidade, nunca buscou por padrões nem ao menos preocupou-se em ser tachada normal.
Quis apenas viver, viver freneticamente, realizando-se, cedendo e fazendo ceder.
Quis apenas viver, viver e deixar viver.
E liberdade não era apenas uma palavra, havia transformado-se em ato, pensamento e respirar.

Apesar do sol, posso ver as estrelas

Nunca fui fã de melodramas, mas confissões, cedo ou tarde, se fazem necessárias, e admito que há um sonho por aqui.
O quanto da vida é afetado por certas idas e vindas não se pode mesurar, sente-se e fim, sem direito à discussões, negociações ou recusas, não pode-se ao menos julgar. O coração desconhece aquilo que a razão nomeia por certo e errado. O coração comanda, manda e desmanda, e forma todo o ser daquele que, mesmo sem querer, é assim como eu.
E as pernas, os olhos e a alma habituam-se a fazer o mesmo caminho, habituam-se a postar-se diante do mesmo alguém, sempre com igual ou maior afeto, com igual ou maior encanto, mesmo que se tente disfarçar. E ali encontra-se consolo, carinho, prazer e paz. Encontra-se tudo, sem exceções, que se é necessário para viver.
Mas quando se sonha convive-se com o medo de despertar e, ocasionalmente, de fato se desperta. E com o despertar a falsa certeza de que não irá se voltar a sonhar. Pois bem, dessa forma se faz a vida... a queda, o levantar. O sonho, o despertar. E, feito um ciclo, tudo se repete, sempre se repete, quer queira, quer não.
E o medo?
Deixe o medo pra depois,
deixe o medo pra mais tarde,
e viva o sonho, mais uma vez.

05/12/2010

O olhar permanecia parado. Era muito. Muito a ser pensado, muito a ser modificado em tão pouco tempo.
Os movimentos ainda eram lentos, o corpo mal respondia, e havia aquele que dizia que iria para o lugar que ela foi enquanto seu corpo tremia.
Era muito, muito, muito! E ela quis desesperadamente voltar.
Quis tragar fragmentos de um dia que levaria consigo, beber a alegria, saboreando o álcool que lhe aumentava o prazer.
A vida era tão viva e agora exige que seja apagada para que permaneça aqui, complicado, não?
Ela não consegue compreender, por mais que tente, e frequentar os mesmos lugares, sem deter-se aos detalhes dos discursos daqueles com quem fala perdeu boa parte da alegria. Julgue errado aquele que assim quiser, mas o que pode parecer tão simples para alguns é para ela nada menos que o inferno.
E procurou por soluções, sendo que a única encontrada lhe parece fora de contexto, pois usá-lo, por melhor que seja, pode não ser certo.
E o certo em questão só lhe fez mal.
Pôs-se a andar, esperando que os anos possuam um passo mais apressado do que os seus e não demorem à passar.

02/12/2010

O papel entregue à ela, com as palavras já borradas devido às lágrimas que por ele rolaram, trazia uma nova decepção.
Ele não poderia ter feito isso, não deveria ter falhado mais uma vez. Tudo ia tão bem...
A hipocrisia fazia com que ele agisse de forma natural em meio a todos acontecimentos. Tachado bom moço, sabia exatamente o que fazer para esconder sua face obscura.
Era quase natal, será que ele tinha consciência do presente horrível que dera à ela?
E aos pouco ela, antes tão crédula, ia perdendo a fé não na vida, mas nas pessoas.
Desejou calar-se, reprimir cada ingênuo sentimento e jamais acreditar novamente.
Ele havia jogado fora o que havia de mais belo entre eles, ele havia jogado fora toda a esperança de um recomeço.
Restava apenas a lembrança do curto mês em que ele soube ser pai.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O perdão

Sentada no banco da rodoviária ela aguardava anciosamente pelo ônibus cuja chegada estava prevista para às 14hs, e enquanto aguardava pensava no tempo em que haviam perdido. O orgulho havia se posto em seus caminhos, o que dificultava uma reaproximação, e o fato de estarem neste momento indo um ao encontro do outro é quase que um milagre promovido por mãos humanas.
17 anos. 6205 dias que se passaram sem demonstração de afeto alguma entre eles. Haveria reparo? Ambos acreditavam que sim.
Enfim, a chegada esperada. Olharam-se fixamente, de forma antes jamais feita. Nos olhos dela toda inocência e esperança que habita o coração de uma criança, nos dele a alegria e emoção de quem reconhece alguém como parte de si. Então abraçaram-se, não os corpos, mas as almas, e as lágrimas diziam tudo aquilo que a voz falhava em dizer.
Bastou um telefonema para que tal momento se tornasse possível, bastou ela ser forte e conhecer o real significado do perdão. Quase posso ouvir seus pensamentos praguejando contra todos os telefonemas formais antes disperdiçados. E ali estavam, sem querer que o tempo passasse ou voltasse, querendo apenas estar.
Ela esqueceu do medo de uma nova decepção.
Ele esqueceu do receio de novas acusações.
Desejaram com sinceridade fazer parte da vida e ser inserido na rotina do outro ser, que carrega seu próprio sangue.
Eram pai e filha, pela primeira vez.

Diferenças

Ultimamente as coisas vêm acontecendo de maneira incontrolável e, apesar do desejo de permanecer neste local, sei que aqui não é o meu lugar.
Sinto a melancolia do meu olhar enquanto o observo em situações banais e me obrigo a sorrir para que ele não note que acabo de perceber que deixei isso tudo ir longe demais.
Já sei muito sobre alguém que um tempo atrás pouco me importava, me habituei ao seu jeito, entreguei tanto sobre mim e, mesmo parecendo tarde, é hora de parar, de partir.
Espero em breve esquecer esses sonhos que não são meus, esquecer as histórias, as formas, o toque. Eu espero seguir como se sempre houvesse sido só.
Espero ainda não me abater, como no princípio planejei. Planejei não me envolver, não querer o ter e ter tudo sempre em minhas mãos.
E vejo agora quão inútil são os planos, pois vem o destino e faz o que bem quer.

Lençóis

Ela hoje sorria com uma facilidade que há muito não encontrava e por vezes sentiu-se na obrigação de conter tamanha euforia. Felicidade... Quão desejado esse estado se tornou e no dia de hoje, após de fato obtê-lo, mal sabe o que fazer.
Lembranças da noite passada são o que a deixa extasiada.
As mãos que encontravam-se transbordando todo o sentimento e intensidade do momento, o aroma que tanto lhe agradava e os envolvia, as confissões que faziam-se nas entrelinhas.
E o durante havia sido tão fascinante que mal tentou prever o depois. Conteve-se ali, em cada detalhe, em cada pequeno e significativo movimento que unia-os cada vez mais.
O luar que invadia o quarto pelas frestas da janela revelava sorrisos que ambos sabiam não pertencer a um simples desejo, o que fazia com que preocupações anteriores se dissipassem antes mesmo que pudessem ser recordadas.
O tempo passou sem que fosse notado ou contado, os braços permaneciam inseparáveis e o mundo girava sem obrigação alguma.
Sendo problema maior ou então solução, estava feito e fim, Estava feito e só. Estavam sós, não mais. E faça a vida agora o que bem entender.

17/11/2010

Queria apenas acabar com o mal que lhe consome, é pedir muito?
Hoje, mais do que nunca, precisou de amparo, precisou pôr fim à angústia que lhe aperta a alma sabe-se lá por que motivo.
Inutilmente perdeu-se por entre a fumaça da qual tanto gostava, desejando que ali esquecesse uma parcela de si que jamais pudesse ser resgatada. Nas entrelinhas de qualquer verso procurava por motivação, por uma razão para que o sorriso estampado em sua face permanecesse ali.
Tudo em vão. Tudo sempre tão em vão.
Desistiu dos atos antes planejados por não conhecer seus reais intuitos e por pouco não desistiu de si.
Recordou com carinho histórias ouvidas na infância, nas quais acreditava sem contestação alguma, e repugnou o fato de já não acreditar em uma palavra sequer que seja pronunciada em sua direção.
Tudo poderia ser tão diferente, fosse um erro a menos lá no começo, porém policia-se antes de tachar alguém como vilão, se havia chegado a tal ponto tinha plena consciência de que suas próprias pernas a trouxeram até ali.
Então fechou os olhos, como sempre fazia e, esquecendo toda descrença que agora lhe acompanha, pediu ao sol que trouxesse boas novas junto ao novo dia que acabara de nascer.

O correto nem sempre agrada

Havia algo naquele silêncio, algo a ser dito. Porém ambos evitaram a tentativa de conciliação, não porque não gostariam de alcançá-la mas por saber que não deveriam.
Pertenciam à mundos diferentes e o bem-estar que causavam um ao outro sabiam bem, desde o princípio, que seria temporário.
Diversas vezes ela havia imaginado como tudo aquilo acabaria, mas em ocasião alguma suspeitou do que de fato aconteceu.
Ele jamais imaginou que sentiria falta daquela voz, das expressões por eles usadas e da ingenuidade com que ela tocava sua mão.
A ironia da vida mais uma vez se fez presente e, em questão de mês, fez questão de marcá-los com fervor.
Agora, cada qual no seu devido lugar, questionam-se quanto tempo levará para que as lembranças se apaguem, para que as imagens se dissipem e para que não desejem estar perto, para que então possam seguir como se suas vidas nunca houvessem se cruzado.
A verdade é que poderiam ser muito, se dez anos antes ou dez depois, mas agora, por pior que seja, a decisão mais sensata é esquecer.