sábado, 30 de outubro de 2010

Frustração

Pela janela daquele quarto via cenas do cotidiano. Os mesmos carros, as mesmas faces, o mesmo lugar, mas nada daquilo a envolvia.
Nas paredes passavam cenas, como que saídas de um retroprojetor, de um passado não tão distante que a fazia sorrir. Invejou tanto a liberdade dos pássaros até que a obteve por completo, e ao fazê-lo sentiu-se assim, tão só, que desejou retornar à gaiola.
Eram horas e horas sem que voz alguma lhe dissesse algo, e os raios de sol que entravam por debaixo da porta não eram nem comparáveis àquele sol que lhe aquecia a pele nas tardes de domingo que passavam no parque. O único aconchego do qual agora poderia desfrutar fazia-se através de seu velho edredom, que já havia tomado a forma do seu corpo. O telefone há tempos também havia se calado. Até pensou em telefonar, mas não saberia para quem.
E tantos nomes dominaram-lhe a mente, tantos jeitos e trejeitos. Se soubesse a falta que fariam nunca os teria afastado dessa forma.
Quis mudar, não pelos outros, mas por si.
Recordou quem foi, quem deixou de ser, e questionou-se o porquê de mudanças tão drásticas. Seja lá qual tenha sido o motivo, chegou a conclusão de que não havia valido a pena. Era agora exatamente da forma que um dia quis ser, percebeu então o tempo perdido enquanto caminhava em busca deste objetivo.
Era nada, nem pra ela, nem pra ninguém. Não sentiriam sua falta, não tocariam no seu nome, não fariam questão de relembrar momentos vividos ao seu lado.
Sentiu então uma forte dor no peito e percebeu que os olhos começavam a lacrimejar. Não chegava a ser um choro, nem ao menos tristeza, estava mais próximo de uma frustração não contida. Era nada e deu-se conta.
Torceu então pra que não fosse tarde demais
e recomeçou.

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