Desliguei o
telefone já aos prantos, olhei para o lado e ali estava ela, a me observar.
Agarrei-me a seus braços com força ímpar. Sentia-me feito quando era criança,
caía um tombo feio e, em meio ao desespero, mal sabia explicar que parte doía.
Se há alguém
nesse mundo capaz de entender-me melhor do que ele, esse alguém é ela.
Se há alguém
nesse mundo capaz de perdoar-me mais vezes do que ele, esse alguém é ela.
Se há amor
nesse mundo que eu tenha mais certeza que possuo do que o dele, esse amor é o
dela.
E ninguém mais poderia acalmar-me nesse
momento do que a figura maternal.
Usou contra
mim – melhor dizendo, a meu favor – minhas próprias palavras. “Lembro que certa
manhã me falastes das mudanças da vida, logo ela muda novamente, e acaba tudo
no seu devido lugar.” E eu sorri. Após longos minutos sem pronunciar uma
palavra ou esboçar um meio sorriso sequer, eu sorri.
E sorri de
coração, sorri por acreditar, sorri por estar em paz.
Meu desespero
era em vão, eu bem sabia. As coisas, enfim, estavam tomando o seu lugar.
Aos poucos
consegui larga-la. Ela, carinhosamente, secou minhas lágrimas e beijou minha
face avermelhada.
Nesse
instante percebi que, dos meus dois grandes amores, um sempre ficará para trás.
Que, para ter a presença de um é preciso abrir mão da presença do outro.
Foi minha
vez de observá-la.
Minha dor
causa nela tristeza maior que a distância é capaz de causar.
Ela
preparou-me para o mundo. Moldou-me, sem saber, para ele.
E eu vou, eu
o sigo.
E o sigo
levando-a no peito, grata por ter-me feito da forma exata que o agrada.
Vou,
deixando uma parte de mim, carregando uma parte dela.
Vou amar.
Incondicionalmente. Por causa e apesar de.
Como ela me
ensinou.
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