Descubro outro eu.
Um eu que finge, forja, arma.
Um eu nada inofensivo.
Que ataca, pra que não precise se defender
E usa tudo de que dispõe:
dentes, lágrimas, pele.
E tu vens, chega quieto,
Pensas me manter sob teu controle,
Que podes te arriscar a ir e vir a hora que bem pretendes.
Contudo, esse meu eu é esperto,
Detecta tudo aquilo que vem de ti,
Calcula tuas pretensões
E age.
Age de forma que muitos não compreenderiam,
Pois sorri quando tu esperas que chore
E chora quando tu aguardas um sorriso.
O eu de que falo é indecifrável,
Faz e fala coisas inesperadas.
Joga e se mantém dono do jogo,
Não admite por um segundo sequer a derrota.
Por vezes o vi manipulador,
Acariciando faces que mais tarde viria a estapear,
Consolando prantos que ele mesmo provocou.
Esse meu eu é medonho,
Confuso e perigoso de lidar.
Não que seja falso,
Mas disfarça,
Não conta aos quatro ventos suas intenções.
E nada faz que não seja intencional.
Sejam tropeções ou gestos,
Tudo, absolutamente tudo, foi complexamente planejado.
Esse eu de que falo, apesar de possuir lá seus sentimentos,
Os deixa tão bem guardados que estes parecem inexistentes.
Esse eu de que falo, ao contrário do eu que mais se mostra,
Não se faz pura e exclusivamente de bem,
Não conhece a inocência, muito menos o perdão.
Esse eu de que falo é a razão.
Toda a razão que o “eu sentimento” esqueceu de carregar.
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