quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não saber

Houveram outros momentos em que desejou falar, esclarecer, explicar, e caso ela o tivesse feito em algum deles talvez agora pudesse recordar com exatidão a reação e resposta provocada pelos seus dizeres, o significado de cada gesto, por menor que tenha sido.
"Eu estou aqui." Isso não se diz ao vento, não se esquece com o tempo.
E até que ponto é bom adquirir lembranças, acreditar, confiar?
Até quando se deve insistir, querer, amar?
Ela perdeu-se.
Perdeu-se nos próprios pensamentos e, sem rumo, busca por algo que a ensine a viver.
Nada é fácil, que graça teria se fosse?
A falta de contato, notícias, certezas, enlouquece pouco a pouco.
Quando acreditou ter encontrado paz viu a forma como uma leve brisa tornou-se vendaval e foi capaz de causar desordem em seus sentimentos. Viu e sentiu.
Pediu silêncio mais uma vez, implorou que ele cumprisse suas promessas, quis reconstruir o que estava destruído, recomeçar, reencontrar.
Não há forma de prever o futuro e talvez ela nem quisesse fazê-lo, mas saber que se tem alguém... ah! quem não gostaria?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Nós

Acontece que eu te sinto tão meu que não sei mais nos separar. Não sei quem tu és, não sei quem sou, sei quem somos.
Acontece que eu te sinto tão em mim que te amo, te odeio, te olho no espelho e me vejo, me olho no espelho e te vejo.
Acontece que me sinto tão tua que falo apenas sobre ti, que te falo sem palavras, que me entrego por inteira.
Abraço não há, pois não encontro forma de me abraçar.
Beijo não há, pois não encontro forma de me beijar.
Presença não há, pois não encontro forma de me encontrar.
E somos tanto, que palavra alguma pode explicar.
Somos tão pouco que nem o silêncio pode contar.
Somos tudo, somos nada.
Não sou eu, não é você, somos nós, e só.
Nós aqui, nós aí, nós em todo e qualquer lugar. No cheiro, no sentir, na falta de saber.
Somos pele, somos carne, somos o que mesmo?
Ah é! Somos o tal do amor.


Eu até citaria nomes, mas é totalmente desnecessário.
(e mudei essa "parte final" porque, pra falar bem a verdade, adoro um subentendimento.)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sentir

Os olhos falavam mais do que as canções poderiam dizer e o desejo da aproximação era camuflado pelos poucos metros que os separavam.
Conheciam-se tão bem, mesmo não sabendo disso.
Ela o respeitava, escutava frase que sabia não ser verdade, mas nada falava.
Ele a queria, insistia tratar-se de físico, enquanto o seu coração a chamava incessantemente.
Pouco a pouco os segredos desfaziam-se e a distância diminuía. Apesar de tudo ambos sabiam que só queriam permanecer ali, lado a lado.
Ela seria a parte que sente, ele a que pensa. E nesse equilíbrio, parcialmente perfeito, as mãos não haveriam de querer se soltar.
E se o destino é o inferno, pois bem, eu os vejo irem juntos.
Ela o abraçou, sem perceber que era exatamente o que ele precisava naquele momento, e ele sorriu, sem saber que seu sorriso a completava por inteiro.
Aquele momento chamou-se então "felicidade".
E o receio de envolver-se deu lugar à vontade de ficar.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Alguém

Continuaria a falar sobre ti durante horas, caso o sono não me impedisse.
Descreveria em detalhes a forma estranha, porém mágica, como nossos lábios tocaram-se pela primeira vez.
Falaria sobre cada um dos inúmeros calafrios sentidos e quase que faria com que o leitor pudesse provar do aroma e sabor da tua pele.
Sim, eu contaria cada um dos detalhes mais sórdidos e confidentes, sem vergonha ou receio, pois o que foi vivido somente a nós caberia julgar em proporções reais.
Ah, caso o sono não me impedisse eu causaria inveja contando quão minha tu és ou a forma como grita meu nome e suplica que eu não me demore.
Eu faria louco por ti o mais são dos seres apenas contando-lhe exatamente como tu és, da forma que conheço.
Pois poderia eu fazer-te dona do mundo, bastaria contar a todos a capacidade que tens de modificar por completo a vida de quem te encontra, de quem te encontra para perder-se, pois és encantadora e única, pequena.
E eu o faria, caso o sono me permitisse, mas por mais esta noite, devido à presença demasiada do dito cujo, será dona apenas do meu peito e com exclusividade, que confesso adorar, habitará apenas os meus sonhos, sabe-se lá até que noite..