terça-feira, 27 de julho de 2010

Subentendimento

Já foi mais fácil adormecer, porém hoje a possibilidade de ouvir tua voz não me permitiu o descanso. Optei pelo não ouvir, pensando que dessa forma pouparia meu ser de sofrimento maior, mas a angústia e saudade que me aperta o peito tão forte quanto teus braços há três semanas me prendiam junto a ti parecem inevitáveis.
Tentei encontrar palavra que pudesse demonstrar com maior suavidade o que sinto no momento, mas na inútil busca voltei a me deparar com o verbo "precisar". E apesar da falta de delicadeza deste, nenhum outro se faria mais honroso. Pois hoje, amanhã, e sabe-se lá até quando, apenas preciso.
Preciso te encontrar, preciso te sentir, preciso te falar, preciso te ouvir, preciso te amar. E, dessa vez, não é um simples querer.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sonhos e Planos

Não deveria envolver-se tanto. Não dessa forma, não com o coração à frente de toda e qualquer decisão.
Não deveria empolgar-se tanto. Não desse jeito, não acreditando que tudo dará certo.
Como voltar a ser um ser racional quando pode sentir-se longe do chão mesmo que os sapatos chutem as pedras contidas na estrada? Não pode, eis a verdade. Os efeitos que tais acontecimentos causam parecem irreversíveis. Sente intensa euforia.
Vinha fugindo da chamada loucura, mas o que mais pode ser além disso?
Não ousaria usar a palavra "desejo". Ambos não ousariam.
Discute incansavelmente com a distância, ordena que se vá, implora...
A persistência nunca foi tão útil e necessária.
"Assim se buscam os sonhos..", sussurra a voz suave e agradável que a impulsiona quando ela pensa não ser certo.
Confronta-se com problemas e empecilhos, mas nesse exato momento nada seria capaz de fazê-la parar. Nada a faria parar de sonhar.
Pois esses novos sonhos vêm embalados em doces canções e palavras só suas, só deles.
Pois esses novos sonhos a fazem querer viver, como antes jamais quis.

domingo, 4 de julho de 2010

Utopia

Tantos rascunhos feitos, decidiu que seria o último.
Antes era tão fácil fazer, agora, por mais que tente, não consegue pôr em palavras o que foi vivido, o que se sentiu.
Poderia encontrar as mais belas palavras, de nada valeriam quando comparadas ao momento, às mãos que incansavelmente se tocavam, aos braços que insistiam em mantê-la ali.
Desejou voltar e ficar, quis que tudo se tornasse mais fácil, mais simples.
Quando nada se tem, desejar algo não se torna assim tão ruim. De certa forma, até faz sonhar.
Sendo ou não utopia, fez sorrir, e isso basta. Pois necessitava de uma boa dose de felicidade, e a obteve sem grandes esforços.
Felicidade, marcas, aromas, jeitos e formas. Tudo vindo sabe-se lá de onde e indo pra sabe-se lá que lugar, mas hoje, aqui.

Ela

Pedir que justifique seus atos não me trará resposta alguma, sei bem disso. Mas a necessidade de te ouvir pronunciar palavras que me agradam é maior que tudo o que sei. Pois a muito não falas de mim por aí e os teus olhos cansaram de procurar os meus.
É frio, meu bem, o que fará pra me aquecer?
Tão distante, novamente. Como sempre, sou eu quem se locomove em busca do nosso encontro. Mas dessa vez há uma diferença, uma enorme diferença. Te põe quase que em uma fuga. Tentando causar minha desistência espalha nossos velhos planos rasgados pelo chão, como prova de desprezo.
É bem o que busco, tua falsa forma de me odiar. E enquanto a observo mentir não me deixo esquecer de amá-la.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Queda

De nada valem promessas após perdidas e esquecidas. O falso sorriso que vem em conjunto com o aceno superficial poderia facilmente ser substituído por um murro na face. Doeria menos, curaria com maior facilidade.
Folhas e mais folhas registradas com certa caligrafia falam de algo que não se pode mais ver, algo que esqueceu-se de sentir.
O despertar de um sonho sempre foi mais dolorido do que o despertar de um pesadelo.
Seus joelhos sangram, mas demora a notar. Não percebe que mais uma vez encontra-se ao chão, ou ao menos finge não perceber.
Dispensa lágrimas e lástimas. Sabe-se lá de que forma habituou-se ao sofrer, ao decepcionar-se.
Cada ato, por menor que seja, de quem for que seja, trás uma consequência.
Talvez haja motivos para que ela sinta-se tão vazia.
E seu maior medo tornou-se também seu grande aliado. A insensibilidade chega aos poucos...

O mesmo lugar

Direitos momentâneamente revogados. Não se pode sentir, não se pode agir, não se pode nem ao menos existir. O corpo encontra-se estático, e na cláusula 1 os pensamentos são bloqueados.
Há quem diga que é apenas uma opção que pode, e deve, ser substituída por outra. Mas não se trata de um acordo. Uma das partes, a prejudicada, nem consultada foi.
Trata-se de acaso ou, para os crédulos, de destino. Ocasionalmente algo a trouxe até aqui e tomou o cuidado de desfazer a estrada. Presa em certo ponto, frustra-se ao ver que à muito já deveria ter conseguido mover-se.
No ponto em que encontra-se sonhos fogem por entre os dedos feito grãos de areia, e a certeza da rotina, do mesmo agir diariamente, faz com que seu coração pulse num compasso desconhecido, inédito e desesperadamente lastimoso.
Tudo feito de forma tão mecânica e impessoal.
Desesperançosa recorda singelos valores e sentimentos esquecidos aos poucos pela grande maioria da sociedade.
Possibilidades, por menores que sejam, a mantém. A quase inexistente porcentagem de chances de voltar a sorrir com tamanha facilidade quanto um dia pôde ser vista torna-se seu respirar.
E o acordar, para muitos confundido com um novo começar, não passa de um continuar.
Continuar a tentar.
Tentar encontrar. Tentar sentir. Tentar agir. Tentar existir. Tentar pensar. Tentar voltar a ser o que um dia foi.
Sem fardo sob as costas, sem dor sob a alma.