Dos poucos sonhos que lhe restavam aquele era o único sobre o qual tinha convicção de que não abriria mão.
Faziam então seis meses, e todos os fatos e trejeitos quando por ela narrados pareciam para muitos pertencentes a uma utopia qualquer, mas a lembrança do que se passou permanecia tão vívida em sua mente que não permitia ao menos questionar-se se haveria exagero em suas palavras.
Ouvia o som e fechava os olhos. Era o som que ele emitia, o som que ele produzia, e dessa forma o sentia tão perto que quase podia sentir sua respiração.
Havia também as palavras, que podiam tardar mas sempre vinham, e não detinham-se no cotidiano, falavam do estranho e veemente sentimento que os envolvia, que os ligava, mesmo que nada pudesse ser visto. Podia o imaginar escolhendo as palavras certas e compartilhar do pulsar forte de seu peito ao relembrar e desejar que o reencontro logo venha.
Ela podia tanto através dele que mal se reconhecia. Por vezes deparou-se com sua imagem projetada no espelho enquanto procurava rastros de insegurança e incertezas, que há muito haviam se tornado suas maiores marcas, mas não os encontrava. A verdade é que ele a deixava tão leve, tão segura e certa do que pretendia que nem ao menos a presença era necessária. Sentiam os pensamentos alheios sempre por perto, mesmo em momentos inapropriados, e isso bastava.
E se isso não fosse amor, não saberiam então que nome lhe dar. Ultrapassava o físico, a razão e qualquer teoria conhecida e, de uma forma inexplicável, era tudo, mesmo não sendo nada.